O João Paulo Martins sonhou esta semana no Expresso...
O sonho que eu tive...
Às vezes passam-se coisas interessantes durante a noite.
Foi já depois do Natal. Acordei meio estremunhado e dei comigo a juntar as peças de um puzzle algo confuso, um sonho meio esquisito que tinha acabado de ter. Como habitualmente, tive de escrever à pressa o que me tinha passado pela cabeça, não fosse esquecer tudo rapidamente, o que também me acontece sempre. E fiquei espantado com as notas que tomei, já que elas eram um autêntico programa de acção para o Douro. A noite longa e a desorganização típica dos sonhos levaram-me a pensar desordenadamente e só com alguma lucidez trazida pela alvorada foi possível refazer tudo. Sonhei, por exemplo, que o Douro estava muito mudado, quer nas pessoas quer nas práticas: com um IVDP activo e dinâmico e com várias associações no terreno (as das grandes empresas mas também as dos lavradores e dos pequenos produtores), a reformularem as regras do sector, as tais que foram criadas na época em que só se produzia Vinho do Porto, regras que se mantiveram até hoje, quando os DOC Douro estão quase a apanhar o Porto em quantitativos de produção. O benefício continuava a existir mas os preços à produção tinham subido significativamente, a área de vinha estava controlada e o Vinho do Porto tinha subido de patamar em termos de preços de prateleira. Mas o tal sonho era ainda mais optimista: os grandes operadores do sector, ao invés de se andarem a matar uns aos outros com políticas de preços baixos irrealistas e que deitaram a perder categorias tão interessantes como os Late Bottled Vintage, estavam a actuar em grupo, com preços acordados previamente. Onde? Nos almoços de 4ª feira que no meu sonho existiam entre todos os grandes grupos e que replicavam a prática da Feitoria Inglesa do Porto. Era ali, antes de se servir o Porto vintage, que se coordenavam estratégias e políticas, com convidados que vinham dar achegas, uns para ouvir outros para aprender, outros para falar de experiências próprias e com frequência por lá passavam representantes das associações atrás referidas. Curiosamente o IVDP tinha passado a ser controlado pelo próprio sector e os grupos de pressão que até então tinham dominado as direcções do Instituto estavam reduzidos à sua insignificância. Respirava-se ar puro, não só na cidade como nas vilas e aldeias, com incentivos à criação de pequenas empresas, com facilidades concedidas pela Alfândega (entretanto remodelada e sem o perfil pidesco que tinha) e com enormes incentivos à instalação de novos lavradores no interior, desde isenção de IRS, preço de gasóleo agrícola ainda mais barato e escolaridade subsidiada. Como é que num sonho se tinha conseguido tudo isto? Tanto quanto me lembro porque havia vontade (do poder político), porque as pessoas se sentavam à mesa a negociar e a decidir e porque se concluiu que o sucesso de uns devia corresponder ao sucesso de todos e porque, nas horas difíceis, não andavam todos a chutar para canto. A coisa não me parecia assim tão difícil. O problema foi que depois acordei!"